terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Arca de Noé

O texto de hoje foi adaptado de artigo publicado na revista Defesa Nacional, nº 671, 1º trimestre de 1977. 
Um dia Absalão andava pela ravina, quando de repente uma nuvem de fumaça apareceu e uma voz chamou seu nome. Absalão ficou apavorado. Só podia ser o Criador.
- Absalão, disse a voz, não estou contente com os homens! Guerreiam entre si, e só defendem interesses pessoais. Farei chover por 40 dias e 40 noites até cobrir a Terra de água. Isso será conhecido como Dilúvio. Construa um barco para você e sua família e coloque um casal de cada ser vivo. Você terá 4 meses!
Absalão não conhecia nada de barcos, e se lembrou de um engenheiro naval chamado Noé. Imediatamente o procurou e no dia seguinte se encontraram. Noé informou que ali mesmo tinha uma floresta com madeira apropriada e em quantidade suficiente. Disse também que o barco ficaria pronto em 1 mês e para isso seriam necessários mais 10 carpinteiros.
Logo Absalão se lembra de seu auxiliar na cruzada santa, seu amigo Roboão. Tenho certeza de que virá trabalhar comigo. Não demorou muito para Roboão estar na sua presença.
- Mas chefe, se o técnico disse 10 carpinteiros, precisamos de no mínimo 15. O senhor sabe, tem as faltas, as doenças, "turn-over"... E para selecionar bem 15 homens, temos que explorar um universo de pelo menos 150 a 200 carpinteiros. Levarei algum tempo.
- Confio em você Roboão, achei o Noé muito simplista.
Naquela noite Absalão dormiu tranquilo. Em 3 dias já tinha um técnico e um especialista em pessoal.
No dia seguinte Roboão chega com boas notícias:
- Já temos 5 homens anunciando no povoado e oferecendo 5 dinheiros. Temos assim, 5 recrutadores e 10 examinadores para a fase de seleção. A propósito, não quero responsabilidades com o numerário. O que o senhor acha de termos um gerente financeiro para o Empreendimento?
- Bem lembrado Roboão!
- Não se preocupe. Farei pessoalmente a seleção.
Passaram-se 15 dias e o organograma proposto já estava na mesa do Presidente. Uma Diretoria das Coisas (DC), uma de Investimentos (DI) e uma de Barco (DB).
Chega o 20º dia.
Absalão recebe Noé em sua residência.
- Senhor Presidente o projeto do barco já está pronto e o pessoal do Grupo de Trabalho do Barco (GT-Bar) ainda não foi nomeado. O material já foi especificado e ainda não conseguiram contratar nenhum carpinteiro. Se o senhor me permite...
- Não se preocupe Noé. Falarei amanhã com o DB e com o DC e apressarei a contratação do pessoal. Você sabe, apesar de ser o presidente, não posso mudar as normas da organização autorizando diretamente seus carpinteiros. Não se preocupe que o Empreendimento está nas mãos de profissionais. Boa Noite Noé!
Chega o 25º dia.
- Roboão, a quantas anda a contratação dos carpinteiros?
- Ora chefe, o senhor sabe que já aumentamos a oferta salarial e nem assim conseguimos candidatos aptos. Eles sequer passam no psicotécnico. Estou pensando em recrutar carpinteiros em outros povoados e através da Internet.
Chega o 80º dia.
Absalão se lembrou do prazo e desabafou com Roboão.
- Veja só. Faltam 40 dias e a Divisão de Importação diz que há crise de transportes e a madeira só chegará em 10 dias. O pessoal de PO, OSM e Informática já fizeram de tudo para diminuir o caminho crítico sem sucesso. Quero uma reunião com os Diretores.
- Mas Presidente, perguntou Roboão, faltam 40 dias para que?
- Para o dilúvio, meu filho, para o dilúvio!
Chega o 100º dia.
- Senhor Presidente, em nossos arquivos não constam os exames de admissão de Noé e nem sabemos se ele é mesmo engenheiro naval!
- Sim, a culpa é minha, falou o Presidente, mas quando contratei Noé ainda não existiam as normas do Empreendimento.
- Esse Noé é um oportunista, querendo se fazer passar por engenheiro naval, sem ter frequentado nenhum curso regular!
- Não há outra solução senhor Presidente...
- Noé está despedido! Roboão providencie a papelada...
Noé ficou furioso e estava disposto a sair daquela terra e o caminho mais fácil era pelo rio. Partiu para a floresta e reuniu 5 carpinteiros.
- Amigos, disse Noé, vamos cortar estas árvores bichadas mesmo. Construiremos um barco e sairemos daqui! Levaremos alguns animais a bordo para comer na viagem. Em poucos dias, o casco do barco já tomava forma.
Chega o fatídico 120º dia.
O Presidente acordou preocupado.
A madeira já tinha chegado, mas só havia 3 carpinteiros e o que era pior, o órgão regulador da época havia libertado todos os animais que iriam ser levados no barco, apreendeu a madeira, encontrou 56 não-conformidades no projeto, aplicou uma multa escandalosamente alta, cancelou a licença do Empreendimento, e ainda publicou um novo regulamento técnico que atrasaria o projeto em 4 meses além de duplicar os custos.
E uma chuva forte começou a cair.
Absalão correu para fora seguido de Roboão. De repente Roboão gritou:
- Chefe, há um barco descendo o rio. Veja na proa, está escrito ARCA DE NOÉ!
- Putz!
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Pronto, está dito!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Restaurantes


Quero compartilhar dicas importantes para quem frequenta restaurantes. 
Quase todos chefs de cozinha usam alguns truques para agilizar o preparo ou economizar ingredientes.
Pedir o prato do dia achando que se está comendo o que há de melhor na casa, por exemplo. Todo mundo acha que está comendo ingredientes fresquinhos, escolhidos a dedo pelo chef. Só que muitos dos restaurantes aproveitam o prato do dia para utilizar produtos com data de validade quase vencida.
Comer peixe às segundas-feiras é outra armadilha. A chance de você comer na segunda um peixe que está na geladeira há quatro dias é de quase 100%. Em geral, as boas casas recebem duas a três entregas de peixe fresco por semana. O carregamento de sexta é o mais turbinado porque vai sustentar o movimento até terça, quando chega um novo carregamento. Ou seja: o peixe de segunda é o de sexta, que foi pescado na quinta. Como nem todo mundo conhece o rol de fornecedores dos restaurantes, sugiro pedir o prato as terças e sextas-feiras. Outra observação sobre peixes é: Depois de três dias de ressaca no mar, não há quem sirva peixe fresco.
Agora vamos ao filé. Uma peça de filé mignon passa por vários estágios até se transformar em escalopinho. Tem restaurante em que o medalhão de filé que sobra vira escalope ou algum prato empanado, tipo bife à milanesa. Quando já está no limite da validade ele é moído e transformado em molho à bolonhesa.
Quem frequenta restaurante japonês deve ter cuidado com a reciclagem. Sabe aquela saladinha verde com uns nacos de kani-kama? Pois bem, pratos que usam carne desfiada, não passam de maneiras criativas de reaproveitar um alimento.
Os melhores dias para ser bem atendido nos restaurantes são as terças, quartas e quintas. Mas o melhor dia é a quarta-feira. Para ter certeza de estar comendo produtos frescos, só há uma saída: escolher restaurantes muito movimentados, onde quase não há sobras de comida. Também vale à pena escolher pratos que sejam a especialidade da casa, que tem mais saída e, por isso, muito mais chances de serem frescos.
No domingo e na segunda muitos dos ingredientes já não são tão frescos. Na sexta e no sábado, a comida é fresca, mas o chef não pode prestar tanta atenção no preparo do prato porque está sobrecarregado. 
Outra coisa que considero importante é não pedir um prato quando a especialidade da casa é outra. É simplesmente loucura.
Aproveite as dicas e boa refeição!

Pronto, está dito!